A LIÇÃO DA CAVEIRA
Há
muito tempo, numa noite sem lua, ia um homem por uma estrada deserta e
sombrosa. Nela havia um cemitério muito velho. Tão velho e maltratado que
algumas ossadas estavam até à mostra, dando ao lugar um aspecto assustador.
Quando
o homem passou pelo dito cemitério, avistou uma caveira quase à beira do
caminho. Teve uma ideia sem ver nem pra quê: resolveu testar sua coragem diante
do sobrenatural. Aproximou-se e, agachando-se, deu uma pancadinha com o nó do
dedo no crânio alvo, perguntando, em tom de brincadeira:
-
Caveira, quem a matou?
Como
era de se esperar, não ouviu nenhuma resposta. Mas ele continuou com o gracejo:
-
Caveira, quem a matou? – Nada outra vez.
Então ele a apanhou, levou à altura do rosto e, dando vigorosas sacudidas,
repetiu a pergunta.
Dessa
vez, porém, foi diferente. Movendo a queixada esbranquiçada, a caveira lhe
respondeu num tom soturno:
-
Foi minha líííííínguaaa!
Por
aquilo o homem não esperava. Tomado pelo pavor, largou imediatamente o macabro
objeto e afastou-se impressionado com o que acontecera. Beliscou-se. Não estava
louco; nem sonhando. A caveira realmente havia falado. Tinha certeza daquilo.
Olhou para trás e a avistou. Parecia encará-lo com aqueles enormes buracos
escuros. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Caminhou o resto da noite até que,
o amanhecer, chegou a um lugarejo.
Casebres
espalhados, velhos e malcuidados; parecia que a vilazinha havia parado no
tempo, imersa numa atmosfera estranha. Naquela hora da manhã as pessoas
começaram a sair das casas para os seus afazeres diários. Ao notarem a presença
do desconhecido, dele se aproximaram, cheios de curiosidade.
Pois
bem. Mal abriu a boca foi ele logo dizendo que tinha ouvido uma caveira falar
no velho cemitério. E o povo dali, muito influenciável, tornou aquilo a
principal notícia do dia. Tão impressionados ficaram que, certa manhã, formando
uma pequena multidão, foram pedir ao forasteiro que os levasse ao cemitério e
repetisse a façanha.
O
homem, satisfeito com a fama que havia adquirido no seio daquele povo simples e
ingênuo que o tinha como um santo milagroso, e crente de que conseguiria
repetir o estranho feito, aceitou o pedido da comitiva. Partiram, então,
imediatamente para o lugar onde acorrera o fenômeno.
Era
mais de meio-dia quando chegaram ao local.
Ali
o forasteiro organizou todo o povo em círculo, no meio do cemitério. Apanhou a
mesma caveira que havia largado dias antes e, para impressionar a excitada
plateia, gritou com uma voz rouca e profunda.
- Caveira,
quem a matou?
Nada.
- Caveira,
quem a matou? – repetiu.
Outra
vez, nenhuma resposta. O povo, inquieto, começou a se rebelar e o homem, já
nervoso, explicou que antes a caveira só lhe respondera quando havia feito a
pergunta pela terceira vez. Todos, então, se acalmaram aguardando cheios de
expectativas. Já suado e nervoso, tornou a gritar:
- Vamos,
caveira, responda para esta gente! Quem a matou?
Mais
uma vez, porém, o silêncio foi a resposta.
Dessa
vez um silêncio mortal. O homem percebeu, assustado, a multidão que se sentiu ludibriada
caminhar em sua direção. Olhos vidrados, expressão furiosa nos rostos, andavam
lentamente, como uma turba de mortos-vivos. Pegavam o que podiam no chão: paus,
pedras, restos de cruzes, ossos. Enquanto fechando o cerco em redor do
assombrado estranho, esbravejavam, em coro, chamando-o de mentiroso, embusteiro
e enganador.
O
povo enfurecido parecia dominado por alguma força sobrenatural. Usando os
objetos como armas, investiu contra o forasteiro. Foi um massacre. Nada deteve
a multidão, que, a cada súplica do infeliz, parecia mais revoltada.
Depois
do ataque, cada agressor retirou-se do local. Lá abandonaram aos abutres o
corpo do forasteiro.
Quando,
ao cair do sol, o local voltou a ficar deserto e silencioso, a caveira, então,
soltou uma estridente gargalhada e disse:
-
Eu não falei que a língua matava?
Flávio Moraes. Em: “Sete contos de
arrepiar”.
.
Assinale o trecho do conto “A LIÇÃO DA CAVEIRA” no qual ocorra o conflito gerador
da história:
a. “O povo enfurecido parecia dominado por alguma
força sobrenatural. Usando os objetos como armas, investiu contra o forasteiro.
Foi um massacre. Nada deteve a multidão, que, a cada súplica do infeliz,
parecia mais revoltada.”
b. “Quando o homem passou
pelo dito cemitério, avistou uma caveira quase à beira do caminho. Teve uma
ideia sem ver nem pra quê: resolveu testar sua coragem diante do sobrenatural.
Aproximou-se e, agachando-se, deu uma pancadinha com o nó do dedo no crânio alvo,
perguntando, em tom de brincadeira(...)”
c. “Há muito tempo, numa
noite sem lua, ia um homem por uma estrada deserta e sombrosa. Nela havia um
cemitério muito velho. Tão velho e maltratado que algumas ossadas estavam até à
mostra, dando ao lugar um aspecto assustador.”
d. “Quando, ao cair do sol, o local voltou a ficar
deserto e silencioso, a caveira, então, soltou uma estridente gargalhada e
disse: - Eu não falei que a língua matava?”
Não sei a resposta, espero ter ajudado😂
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