Sempre
há um sentimento nostálgico para aqueles que apreciam o mundo da
leitura. Geralmente,
quanto mais se lê, mais saudosista torna-se o leitor. Com Elisa não
seria diferente. Nunca teve muito apego a forma material, e sim a
forma imaterial do livro. O mais importante sempre foram as
lembranças. Um livro razoável, deixava um número mediano de
memórias, já uma boa obra marcava sua alma. O mais importante para
ela era passar o livro a diante, compartilhar suas alegrias com os
outros.
Sua
ocupação era localizar possíveis novos leitores. Olhos atentos a
todos que a cercava. Ficava atenta às conversas. Caso surgisse algum
assunto que estivesse ligado a alguma obra, aproveitava a
oportunidade e sugeria a leitura. Quando via que a pessoa não
despertava interesse, uma onda depressiva tomava conta do seu ser.
Como era possível alguém não gostar de ler? Mesmo assim, não
desistia. Buscava um modo de falar sobre o assunto novamente, agora
com o livro nas mãos. Quase sempre, tinha sucesso.
Com
o passar dos anos, sua mente começou a lhe pregar peças. Memórias
gloriosas começaram a se unir a outras menos glamourosas. Aquela
ideia que antes, para ela, fora mal aproveitada pelo autor, passou a
ter um novo sentido. Sua caixa de sentimentos díspares, deixou de
armazenar e passou a procriar. Uma enxurrada de novas histórias
começaram a surgir.
A
leitura de novas obras, passou a ser interrompida por rompantes
autonomísticos. Sua mente perdia-se na história original. Novas
possibilidades eram criadas. Ficou preocupada. Sempre ouvia dizer que
alguém conhecia outro alguém que ficara louco de tanto ler. Seria
seu caso? Parar de ler seria impossível. Para ela ler e respirar
eram necessidades básicas inerentes a sua vontade. Como resolver
seu novo, inédito impasse. Tentou ir dormir para esquecer um pouco
sua nova obsessão. Não deu certo. Seus sonhos em vez de levá-la a
relaxar, pareciam que a empurravam para fora da cama. Seu braço
pendeu para fora de seu leito. Sentiu um faiscar nos dedos. Acordou
confusa e assustada. Para sua surpresa, em meio a bagunça de seu
quarto viu no chão, ao lado da cama, um objeto que mudaria toda a
maneira de ver o mundo.
Pegou-o
do chão e então percebeu que ali estava a sua cura. Acendeu a luz e
começou. Passaram horas. O tempo mudou, a chuva caiu. O som tintilar
da água era a trilha sonora que faltava. A madrugada acabou. O dia
nasceu e junto com ele sua primeira grande façanha. Sua caixa de
sentimentos díspares, enfim, estava vazia. Respirou aliviada.
Colocou o objeto sobre a mesa. Sentiu naqueles papéis, o som da
conquista. Novas possibilidades estariam por vir.
Tudo
fez sentido. O círculo fechou-se. Imaterial tornou-se material. Suas
alegrias agora seriam compartilhadas de forma diferente. Da ávida
leitora surgiu, uma nova escritora.
Juliana Behrends de Souza
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